Porque vale a pena assistir ao Roda Viva
Para quem não viu, na
noite de ontem, segunda feira (05/08), os idealizadores do grupo
“Mídia Ninja” foram ao programa Roda Viva, exibido pela TV
Cultura (SP). Chamou-me a atenção o fato de a cada semana o
programa trazer entrevistados variados, sempre com questões
interessantes, e nesta semana trazer justamente um grupo que pretende
fazer uma revolução no meio jornalístico, com uma nova forma de
veicular informação.
Alguns, sobretudo entre o
público mais jovem, devem achar o programa chato e antiquado, mas
nos dias de hoje, em que vemos veicular tanta informação rasa e sem
precedente, com declarações publicadas pela metade em busca de
destaque na mídia, o programa Roda Viva subsiste como um meio sério
de fazer televisão. Logicamente, não deixo de pontuar que algumas
perguntas são tendenciosas, percebe-se alguma leve
descontextualização quando o entrevistador não conhece a fundo o
assunto, mas entre um e outro escorregão, o programa tem lá seus
créditos.
O engajamento do Roda
Viva não para por aí. A preocupação constante com a escolha
meticulosa de entrevistados que atendam à demanda informacional
presente no cotidiano de cada brasileiro, fazem com que a cada semana
sejamos inseridos de forma mais abrangente em alguns pontos em voga
na atualidade. Pelo centro do “Roda”, já passaram muitas
personalidades discutindo sobre temas atuais e polêmicos, como: a
crise do sistema aéreo – quem lembra? para quem viaja
frequentemente, a crise ainda não acabou por completo... – o PCC,
as eleições presidenciais, e uma gama variada de figuras do cenário
político, artístico e filantrópico, desde Marina Silva até Zezé
di Camargo e Luciano, chegando, no último programa, à dupla de
idealizadores do Mídia Ninja.
Durante o programa, os
“ninjas” falaram sobre suas propostas de ampliar a forma de fazer
jornalismo, com o amparo das novas tecnologias da informação, e
ficou marcado, ao menos para mim, o fato de uma nova geração estar
de frente a entrevistadores de um programa que, até 27 anos atrás,
também era considerado – e arrisco dizer, ainda é – inovador e
revolucionário.
Ele surgiu em 1986, com a
proposta de inovar a linguagem televisiva e trazer à tona discussões
sobre temas interessantes, atuais e polêmicos. Pode parecer pouco,
mas o fato de o formato do estúdio ser configurado de forma que o
entrevistado fique no centro, entrevistadores no alto em uma espécie
de plateia de arena, e as câmeras não terem uma preocupação
pré-definida com o posicionamento, pegando o entrevistado de vários
ângulos, é algo inovador para um programa lançado há mais de 20
anos. Além disso, em plena época pós-Diretas Já, a atração veio
claramente mostrar uma postura independente e consoante ao novo
cenário político da época, com liberdade de escolha e debate
político e ideológico.
Logicamente, é covardia
falar em IBOPE e projeção para um programa que compete com tantas
outras atrações mais populares e menos intelectualizadas na
segunda-feira à noite. Ainda assim, o fato do Roda Viva subsistir a
tantos anos no ar não se dá por acaso.
E finalmente – por que
não citar? – a alusão do título do programa à música de Chico
Buarque colabora para afirmar a atmosfera crítica e consciente que
constitui a sua principal diretriz.
Não é preciso virar fã
de carteirinha. Mas se você está meio “por fora” de algum
determinado assunto, e perceber que aquela personalidade ligada ao
caso vai aparecer no Roda Viva, vale a pena assistir. Afinal, um
pouco mais de informação e “canja de galinha” não fazem mal a
ninguém.
Sobre a Autora:
Núbia Camilo é professora por formação, cantora por hobby, jornalista freelancer e escritora por paixão. Mas, o que gosta mesmo é de pensar sobre a vida e de uma boa conversa.
Comentários
Postar um comentário