A ignorância é uma benção
Minha cabeça é uma bagunça!
Eu não consigo organizar os meus pensamentos. E são tantos! Constantes, aleatórios, espessos. Tão espessos que dão-me a impressão de que não cabem no meu crânio. Pressão! Tal qual estende-se até ao peito.
Sempre enxerguei o mundo com outros olhos e tenho a certeza de que este mesmo mundo sempre ignorou-me com os seus habituais olhos cruéis da indiferença.
Eu observo aos tolos; os invejo.
Seus corpos dançam, suas vozes bradam. Parecem tão despreocupados e livres, embora saibamos que estão atados ao senso comum e à conveniência.
A vida é um fardo e refletir sobre ela é um castigo. Os tolos não refletem, apenas vivem.
Eu invejo aos tolos; os observo.
Seu passado descompromissado gerou o seu presente irresponsável que atrairá um futuro inexpressivo. Ainda assim, as conseqüências não os afligem, tampouco causam temor.
Já eu, quando olho pro meu passado: decepção. Quando olho pro meu presente: insatisfação. Quando olho pro meu futuro: frustração. Isso me corrói!
Os tolos são sempre tão sociáveis. Estão sempre aglomerados, cercados de pessoas as quais podem se dar ao luxo de chamá-las de amigos. Embora desconheçam a profundidade de tal relação.
Sempre têm o que falar, embora quase nunca tenham algo a dizer.
Meu amigo travesseiro é também o meu pior inimigo. Não o culpo! Todas as noites tem a árdua tarefa de suportar ao peso da minha cabeça superpovoada e inquieta. Já as minhas pálpebras não parecem ser pesadas o suficiente para a simples tarefa de fazer os meus olhos fecharem. Dormir é um privilégio!
Aquele que diz: "A inteligência é um dom." Digo-te: Não sabes a maldição que a carrega!
A quem diz: "O conhecimento é a base de tudo." Replico-te: É o alicerce para uma edificação de tormentas.
Aos que dizem: "O pensamento nos faz voar." Afirmo-te: Não sabes quão difícil é encontrar o nosso chão.
Sábio, rogo-te: vede e sedes comigo ofuscado à luz da sabedoria. Porém, exorto-te: se puderes, cega-te pela cegueira da tolice e apoia-te na bengala da ignorância.
Aos tolos, a leveza da permissividade. Aos sábios, a dureza da consciência.
Aos tolos, a viagem sem destino. Aos sábios, a jornada ao calvário.
Aos tolos, a ingenuidade. Aos sábios, a culpa.
Aos tolos, a falácia. Aos sábios, o murmúrio.
Os tolos buscam o prazer. Os sábios, a paz.
Aos tolos, a vida. Aos sábios, a eternidade.
Por fim, a infinita solidão; na imensidão de um mundo finito.
Comentários
Postar um comentário