Debochada
Debochada é o nome que ela escolheu para si, como quem se veste com a pele de um personagem - uma escolha entre o real e o inventado, entre o riso alto e a melancolia escondida. Seu sorriso abre espaço no rosto como um clarão inesperado, sua risada, rasgada e alta, parece rasgar o céu, trovejar nas alturas, uma lembrança de Malévola, talvez, uma faísca de ironia na boca da noite. No trabalho, veste a roupa branca e calça o silêncio das instituições tradicionais da saúde. Mas Debochada? Debochada se esconde debaixo daquelas roupas, à espera do fim do expediente, à espera do momento de poder se encontrar. Ela adora músicas. Sua vida é uma trilha sonora pulsante. A cada canção, encontra um pedaço de si espalhado. Compartilha, sem pedir permissão, aqueles acordes que bradam como eco dentro de seu peito. O que ela não diz com palavras, as músicas gritam. Como se soubessem que há algo, lá dentro, que ainda não aprendeu a falar, que ainda não encontrou f...