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Mostrando postagens de outubro, 2024

Debochada

     Debochada é o nome que ela escolheu para si, como quem se veste com a pele de um personagem - uma escolha entre o real e o inventado, entre o riso alto e a melancolia escondida. Seu sorriso abre espaço no rosto como um clarão inesperado, sua risada, rasgada e alta, parece rasgar o céu, trovejar nas alturas, uma lembrança de Malévola, talvez, uma faísca de ironia na boca da noite. No trabalho, veste a roupa branca e calça o silêncio das instituições tradicionais da saúde. Mas Debochada? Debochada se esconde debaixo daquelas roupas, à espera do fim do expediente, à espera do momento de poder se encontrar.      Ela adora músicas. Sua vida é uma trilha sonora pulsante. A cada canção, encontra um pedaço de si espalhado. Compartilha, sem pedir permissão, aqueles acordes que bradam como eco dentro de seu peito. O que ela não diz com palavras, as músicas gritam. Como se soubessem que há algo, lá dentro, que ainda não aprendeu a falar, que ainda não encontrou forma de existir fora dela.   

O poeta das montanhas

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Inquirim Nas alturas onde o vento sopra livre, O poeta encontra sua alma no horizonte, Entre picos e vales, sua voz vive, A natureza é sua canção, seu constante. Cada pedra conta um verso guardado, Cada nuvem carrega um sonho distante, E o eco, suave, por entre os rochedos, Repete segredos que ele deixa errante. Os rios cantam hinos de liberdade, As árvores balançam em sua melodia, Nas montanhas, ele não busca verdade, Mas o silêncio que o inspira dia a dia. Seus olhos veem mais que o céu e a terra, Veem o tempo em forma de eternidade, Pois o poeta das montanhas nunca erra, Seu coração é feito de intensidade. Voçoroca Subi montanhas em busca de sentido, Mas os ventos me falaram do vazio, Entre sonhos desfeitos e caminhos partidos, Senti o frio da vida, o peso sombrio. As pedras que pisava, firme outrora, Agora cortam meus pés, antes seguros, E os versos que um dia ecoaram sem demora, Hoje se perdem em silêncios obscuros. A cada passo, o horizonte recua, O que parecia perto se faz dista

Ao que tudo indica

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Ao que tudo indica, algo mudou, Desde que você chegou por aqui, O coração, que antes descansou, Agora dispara só de te ouvir. Ao que tudo indica, eu estou perdido, Porque cada gesto seu é um golpe, E mesmo sem ter nada prometido, Me vejo preso à minha própria sorte. Ao que tudo indica, sou um tolo, Tentando fingir que é só impressão, Mas é só você me olhar de novo Que perco o controle da situação. Ao que tudo indica, já não há volta, Estou nas tuas mãos, sem perceber, E embora minha mente se revolta, Meu coração só quer te pertencer. Ao que tudo indica, isso é amor, Pois suas palavras têm outra cor, E tudo que antes tinha sabor, Agora só faz sentido com seu calor. Ao que tudo indica, eu desisti De tentar encontrar explicação, Porque ao teu lado, descobri Que amor não cabe na razão. Me entrego, sem reservas, sem medo, É claro, está dito e está feito. Nem faço mais questão de ser discreto, Ao que tudo indica, eu já te amo por completo.